A irmã mais egoísta

Ontem foi dia de trabalho voluntário. Adoro esses dias porque sempre aprendo e descubro coisas novas sobre mim mesma e os outros.
Lá no projeto funciona assim: uma vez por mês as famílias cadastradas recebem palestras sobre temas educativos diversos. Enquanto os pais vão pra capela assistir as palestras, um grupo de voluntários toma conta das crianças. Geralmente cada família tem pelo menos 3 irmãos.
Todos moram em uma comunidade bem carente, e cada família possui uma história peculiar.
Na maioria das vezes, cheia de tragédia e fatos que mostram um mundo completamente diferente daquele em que a maioria de nós vivemos.

Eu adoro tomar conta de crianças de 5 a 7 anos. Elas sempre são espontâneas, muito inteligentes, falam o que pensam, e se você sabe se colocar, elas te respeitam e não exitam em demonstrar o amor delas por você. A maioria dessas crianças não têm pai ou mãe, já sofreram abusos, já viram coisas horríveis. Por isso sempre temos que tomar muito cuidado com o que falamos. São tão pequenas, mas já têm feridas tão profundas..

No meio da palestra, a gente sempre serve um lanche e depois alguns doces. É sempre uma festa, pois para muitos essa será a primeira e única refeição do dia.

Na hora de servir, entreguei um lanche para cada um. Vi que duas delas estavam cochicando e não queriam comer. Até que uma me perguntou, "tia, lá na capela vão servir lanche também?". Na hora percebi o que ela queria dizer. "Sim, mas por que? Você quer levar pra sua mãe?", respondi. Na hora elas abriram um sorriso e balançaram um "sim" com a cabeça. Então eu disse que elas não precisavam se preocupar, e que podiam comer pois todo mundo receberia. "E meu irmão que está na outra sala, tia?", ela perguntou. Respondi que ele também receberia, e depois de pensar um pouco, elas começaram a comer.
Quando chegaram os doces, a primeira coisa que a mesma garota disse é que ela comeria só um pirulito, porque queria repartir os doces com os irmãos que não puderam vir.
Como se ela tivesse lido o pensamento de todos na sala, todas as crianças começaram a dizer o mesmo, que só comeriam uma bala, pois repartiriam o resto com os irmãos.

Então eu comecei a pensar em todas as vezes que eu escondi chocolate pra não repartir, todas as vezes que comi escondida para não oferecer pros meus irmãos, que com certeza não recusariam.
Diante daqueles pequeninhos de apenas 5 a 7 anos, senti-me a menor de todas, e a irmã mais egoísta da face da terra...

2 comentários:

Lavrador disse...

...não sei o que dizer...está decidido, eu fico em silêncio!

Bem-haja!

Anônimo disse...

eu sou muito egoista e amanhã eu vou começar a trabalhar como voluntária no hospital da cidade e viso para de ser assim.