Dois amigos, deitados na grama, contam as estrelas:

Ela: trezentos e setenta e oito mil novecentos e sessenta e três....
Ele: Ah! Você está brincando! Não pode ter contado tudo isso! Eu só contei trezentas e cinqüenta e aposto que foram todas repetidas!!!

Ela solta uma gargalhada e senta-se ao lado dele.

Ela: É. Você me pegou. Acho que o céu nem tem tudo isso de estrelas.

Os dois ficam em silêncio. Ele a olha nos olhos, esperando o que viria a seguir. Ela sempre fazia um comentário inusitado nestes momentos. Ele a conhecia bem, e no fundo até podia prever o que ela diria.

Ela: Rick, você acha que a gente daria certo?
Ele: a gente? Não, não acredito.. Já conversamos sobre isso.
Ela: é que poxa, a gente só faltou nascer junto. Te conheço mais que a sua mãe! – ele solta uma gargalhada – e fora que eu estou começando a ficar preocupada.
Ele: com o que?
Ela: você sabe, eu já tenho 26, você já tem 28. Todos os nossos namoros não deram certo até hoje! Nem aquela monga da Aline quis ficar com você!
Ele: é verdade! – ele sorri – mas onde já se viu! A magrela me fez escolher entre você e ela! Um absurdo! Até parece que eu trocaria minha melhor amiga por uma... estranha...

Ela se deita novamente e volta a contar.

Ele: se bem que ela tinha lá seus atributos... se é que você me entende..
Ela: Rick!!! Me poupe!
Ele: desculpa, não pude evitar!

Ela senta-se novamente, e ele a acompanha:

Ela: me beija
Ele: o que??
Ela: me beija logo!

Assustado ele se lembra de todos os momentos que ansiou desesperadamente por esta chance. Cris fora sua obsessão na infância, paixão na adolescência, e agora que estavam adultos e desimpedidos de toda censura, já havia até mesmo desistido da idéia. Ele não espera mais nenhum segundo, e a beija como nunca havia beijado alguém antes.
Eles se olham.

Ele: e aí? Gostou?
Ela: é, foi bom.
Ele: bom como?
Ela: bom oras. Bom de bom. E você? O que achou?
Ele: é, foi bom também.
Ela: no que você pensou?
Ele: ah, em nada.
Ela: mentiroso. Fala logo!
Ele: tá bom, mas promete que não fica brava.
Ela: tá tá, fala logo menino!
Ele: por alguma razão estranha, pensei na minha mãe!
Ela: na sua mãe Ricardo?!! Essa foi a coisa mais broxante que um cara já me disse!

Os dois não conseguem segurar o riso.

Ela: pelo menos a gente tem certeza agora.
Ele: é, nunca daria certo.
Ela: não mesmo.
Ele: seria perfeito demais. Coisa de conto de fada.
Ela: contos de fada não existem
Ele: não existem.
Ela: e o perfeito é muito chato.
Ele: muito chato...

Os dois se deitam novamente e continuam a contar as estrelas.